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O corpo como primeiro território: percurso metodológico para uma autoetnografia do Traslado de Nossa Senhora de Nazaré

Me. Gabriel da Mota Ferreira1

Traslado em 2023 – crédito: Pedro Silva

O ponto de partida e o ponto de virada

Pesquisar o Círio de Nazaré, para mim, nunca foi a escolha de um objeto de estudo distante. Nascido e criado em Ananindeua, na periferia da Região Metropolitana de Belém, o Traslado da Imagem Peregrina da Santa sempre foi parte do meu calendário afetivo e da paisagem sonora, visual e cinestésica do meu território. Minha investigação de doutorado nasce, portanto, de uma questão que emerge da pele: como a experiência avassaladora do Traslado, em sua dimensão comunicacional, modula os sentidos de identidade, pertencimento e território para um corpo como o meu, negro e periférico?

Inicialmente, busquei respostas em conceitos que pareciam dar conta da intensidade do fenômeno. Contudo, foi durante o exame de qualificação que o projeto encontrou seu ponto de virada fundamental. As arguições da banca, em especial as do professor Fábio Castro, me confrontaram com uma questão crucial: a aparente incoerência entre o arcabouço teórico que eu apresentava e a prática investigativa que, de fato, eu já realizava intuitivamente. Foi apontado que minha abordagem se afastava de modelos mais canônicos da etnografia sensorial e se aproximava, com muito mais precisão, do universo intelectual e metodológico da minha própria orientadora.

Este texto reflexivo, portanto, busca cartografar esse percurso. Trata-se de um exercício de organização de ideias que parte do desafio colocado pela banca para chegar a uma definição metodológica mais honesta, rigorosa e potente para a tese: a da autoetnografia sensorial. Argumento aqui que é apenas ao assumir meu próprio corpo como o primeiro território da investigação que posso responder à minha pergunta de pesquisa de forma eticamente implicada e teoricamente relevante.

Da etnografia sensorial à prática autoetnográfica

A crítica sobre a “transliteração intelectual”, especialmente em relação ao uso da obra de Sarah Pink, foi o gatilho para um mergulho profundo no trabalho que já me era mais próximo. O artigo de minha orientadora, “A antropologia dos sentidos e a etnografia sensorial: dissonâncias, assonâncias e ressonâncias”, tornou-se a chave para decifrar esse quebra-cabeça. No texto, Castro (2021, p. 3) não apenas apresenta, mas posiciona criticamente as diferentes abordagens, distinguindo a “antropologia dos sentidos” – mais comparativista e focada nos sentidos como objeto – da “etnografia sensorial” – uma abordagem metodológica que “implica num aporte, à disciplina, da contribuição dada pelas teorias da percepção sensorial”.

A autora vai além, mostrando que sua própria prática, embora em diálogo com Pink, é uma “ressonância” de pensadores como Merleau-Ponty, Ingold e, crucialmente para minha pesquisa, de uma linhagem que valoriza a experiência vivida, como em Michel de Certeau e François Laplantine. Percebi, então, que meu desafio não era “provar” que eu fazia o que Pink fazia, mas sim assumir e fundamentar o que o professor Fábio já havia identificado: que eu seguia os passos da minha orientadora.

Essa percepção se consolidou com a leitura de outro artigo de Castro (2020, p. 290), “Etnografia sensorial e experiência sensível: experienciando a carne do mundo”. Neste trabalho, a metodologia é apresentada em ato. A autora descreve sua prática como um processo de “entrar na carne daquele mundo”, valorizando a “consciência do pesquisador ao ser afetado pelo mundo da vida”. Ela narra em primeira pessoa suas sensações, sua imersão sonora e olfativa na Feira do Guamá, suas estratégias para “fazer a feira” como postura etnográfica. O que ela descreve é, em sua essência, um procedimento autoetnográfico.

Dessa forma, assumir o termo autoetnografia para minha tese tornou-se não apenas possível, mas necessário. Trata-se da abordagem que legitima o entrelaçamento entre o “auto” (minha subjetividade, meu corpo, minha memória) e o “etno” (a cultura e as práticas comunicacionais do Círio), validado pela centralidade do conceito de “ser afetado” (Favret-Saada), citado no artigo em questão.

O corpo em campo: desafios e descobertas de uma etnografia polifônica

Ao invés de me preparar para um futuro trabalho de campo, meu desafio atual é metodológico e analítico: como tecer, em uma única narrativa coesa, a polifonia de experiências que já vivenciei no Traslado? Entre 2022 e 2024, meu corpo ocupou lugares distintos na “carne do mundo” (Merleau-Ponty) da procissão. Em 2022, fui o corpo anônimo na multidão, o caminhante e espectador imerso no fluxo. Em 2023, fui o corpo em velocidade, o ciclista que percorreu a totalidade do trajeto, percebendo a procissão como um organismo em movimento contínuo. E em 2024, fui o corpo profissional, o jornalista que, embora com determinados acessos privilegiados — não exatamente os que eu gostaria —, mediava a experiência através do imperativo da notícia.

O principal desafio, portanto, é o da síntese. Como dar sentido a essas três perspectivas sem que uma anule a outra? A descoberta fundamental, impulsionada pelos debates da qualificação, foi que a comunicação cinestésica é o fio condutor. Todas as três experiências, apesar de suas diferenças, foram primariamente sobre o corpo em movimento, sobre a percepção coletiva do ritmo e sobre a imersão em uma atmosfera sensorial avassaladora. O desafio agora é revisitar minhas memórias e registros não como três eventos separados, mas como três “camadas” de uma mesma experiência cinestésica.

Outra descoberta que emerge deste processo retrospectivo é a identificação clara dos platôs comunicacionais, conceito sugerido pelo professor Fábio. Olhando para minhas anotações e memórias, percebo agora que em todas as minhas participações, houve picos de intensidade sensorial e afetiva. A descoberta é que esses picos não são aleatórios; são momentos em que a apropriação popular do ritual se torna mais audível, visível e palpável, momentos em que a comunicação cinestésica atinge sua máxima eficácia.

Finalmente, a sobreposição dessas experiências revela a descoberta mais complexa: a ambivalência do meu próprio corpo-território. Como jornalista, tive acessos que o caminhante não teve, mas fui lido de uma maneira diferente. Como ciclista, tive uma visão panorâmica, mas o extremo cansaço prejudicou parte das minhas interações. Em todas as posições, a consciência de ser um corpo negro na periferia modulou a experiência, seja na forma como fui olhado por policiais, seja na identificação imediata com outros moradores, inclusive vizinhos desde a infância. A descoberta é que a autoetnografia me permite analisar não uma identidade fixa, mas como a identidade é performada e negociada em meio à “carne” sensorial e social do evento.

Traslado em 2024 – crédito: Gabriel da Mota

Considerações processuais

Este exercício de escrita reflexiva cumpre um papel fundamental: transforma a angústia do pós-qualificação/quase-defesa em um plano de pesquisa mais robusto e autêntico. Ele solidifica a compreensão de que meu projeto não é apenas sobre a periferia, mas é uma tentativa de produzir conhecimento a partir dela, utilizando meu próprio corpo como território primeiro de investigação. O caminho agora está em seguir os passos metodológicos já trilhados pela minha orientadora, aplicando-os à realidade cinestésica do Traslado, para, com sorte, trazer uma contribuição que seja ao mesmo tempo pessoalmente verdadeira e academicamente relevante.

Referências

CASTRO, Marina Ramos Neves de. A antropologia dos sentidos e a etnografia sensorial: dissonâncias, assonâncias e ressonâncias. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 64, n. 2, e186657, 2021.

CASTRO, Marina Ramos Neves de. Etnografia sensorial e experiência sensível: experienciando a carne do mundo. Amazônica – Revista de Antropologia, v. 13, n. 1, p. 289-310, 2020.

  1. Doutorando no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde desenvolve uma autoetnografia sensorial sobre o Traslado de Nossa Senhora de Nazaré. Jornalista e criador do projeto @ciriooutravez, dedica-se ao estudo do Círio desde a graduação, tendo analisado a experiência estética da festa em seu TCC (2017) e a cultura material em sua dissertação de mestrado (2022). ↩︎

Sentidos do coletivo: experiências na cena de quadrinhos em Belém

Me. Ellen Aline da Silva de Sousa1

Encontro do coletivo Açaí Pesado
Encontro do coletivo Açaí Pesado. Foto: Aline Sousa.

Embora o termo “coletivo” apareça antes do nome do grupo como marcador de categoria, como em “coletivo Açaí Pesado”, a princípio não foi compreendido como uma categoria propriamente dita, já que parecia autoexplicativo: indicava um grupo de pessoas reunidas para fazer quadrinhos. No entanto, à medida que conhecia melhor os coletivos e a pesquisa avançava, esse termo passou a refletir as transformações observadas no percurso investigativo. Assim, as reflexões sobre a noção de coletividade evoluíram ao longo do estudo, sendo constantemente ressignificadas durante a observação participante em encontros com os coletivos, seja em aulas, laboratórios, oficinas ou eventos.

A participação nas atividades promovidas por esses coletivos evidencia que a coletividade permeia diversas relações internas e se expande para redes mais amplas e complexas de colaboração no cenário de quadrinhos em Belém. Um exemplo dessa dinâmica é a comemoração do Dia do Quadrinho Nacional, ainda nos anos 1990, resultado de parcerias entre quadrinistas e coletivos (Souza; Oliveira, 2019). Eventos como esse nascem da coletividade e geram novas formas de socialidade, ao promover encontros, diálogos e debates sobre a produção em quadrinhos. Não por acaso, a partir da década de 1990, surgem novos coletivos que, à semelhança de um rizoma (Deleuze; Guattari, 2011), vão se encadeando em uma trama contínua de conexões.

A leitura de Maffesoli (1998) contribui para compreender os coletivos de quadrinistas como experiências de estar-junto, em que os vínculos se estabelecem por afinidades estéticas e afetivas. Contrário a estruturas rígidas, o autor aborda a concepção de socialidades, isto é, formas mais sensíveis de vínculo e pertencimento. Desse modo, a interação entre as pessoas dentro dos coletivos também se fundamenta na vivência compartilhada e na espontaneidade das relações, e não apenas para uma produção comum, visto que “[…] o estar-junto é um dado fundamental. Antes de qualquer outra determinação ou qualificação, ele consiste nessa espontaneidade vital que assegura a uma cultura sua força e sua solidez específicas” (Maffesoli, 1998, p. 115). Nesse sentido, a formação e interação nos coletivos de quadrinhos refletem um modelo de socialidade dinâmica, no qual a troca contínua de experiências moldam as relações entre seus integrantes.

Já Simmel (1983), ao refletir sobre as formas sociais, propõe observar como essas socialidades se organizam, uma vez que os coletivos não podem mais ser compreendidos apenas como um conjunto de indivíduos coexistindo. As interações entre eles produzem formas sociais que, ao longo do tempo, adquirem independência e passam a exercer influência própria sobre os integrantes e os coletivos.

Desse modo, as discussões, experimentações e processos criativos em coletivo costumam extrapolar a produção de um quadrinho em si, pois é preciso considerar que “Além de seus conteúdos específicos, todas estas sociações também se caracterizam, precisamente, por um sentimento, entre seus membros, de estarem sociados, e pela satisfação derivada disso” (Simmel, 1983, p. 168). Diante desse contexto, é possível compreender que os coletivos de quadrinhos transcendem o objetivo de uma produção artística, pois as sociabilidades construídas nos processos criativos, nos debates em eventos e aulas, nas vendas de produtos e, sobretudo, nos encontros que não têm necessariamente os quadrinhos como foco central, valorizam principalmente o prazer da convivência entre seus membros. Por compartilharem ideais semelhantes, os integrantes estabelecem vínculos de amizade, independentemente das relações familiares já existentes em coletivos como o Kitnet e o Serendi, por exemplo.

Além das relações internas, é importante considerar a coletividade no cenário dos quadrinhos de forma mais ampla. Como já apontado, as colaborações entre quadrinistas e coletivos contribuem significativamente para a consolidação da produção de quadrinhos em Belém, acompanhando diversas iniciativas. Entre elas, destacam-se a consolidação da Semana do Quadrinho Nacional, realizada pela Fundação Cultural do Pará em parceria com os artistas; edições do evento Ilustra! Narrativas em Ação, que geralmente segue o mesmo modelo de organização da Semana do Quadrinho; a formação de novos coletivos; o recente Circuito Amazônico de Quadrinhos, que integrou diversos estados da Região Norte; o Laboratório de Quadrinhos, promovido pelo coletivo BRT na Casa da Linguagem; além de projetos viabilizados por editais de incentivo, entre outras ações.

A partir desse contexto, é possível compreender que as dinâmicas de coletividade se estabelecem nas relações com outros coletivos de quadrinhos, com outros artistas, mas também se realizam dentro dos próprios grupos, que buscam gerar apoio mútuo, estabelecer funções e dividir demandas. Além disso, a coletividade também se mostra no convívio dos quadrinistas, nas parcerias que firmam, nos encontros que realizam, enfim, criando sociabilidades que formam o cenário de quadrinhos em Belém.

Com Deleuze e Guattari (2011), a noção de coletividade pode ser pensada como rizoma, uma rede que cresce em múltiplas direções, sem centro fixo, sem hierarquia predeterminada. Os coletivos de quadrinhos em Belém, com suas conexões e articulações, atuam a partir dessa perspectiva: artistas que integram diferentes grupos, iniciativas que se originam de encontros casuais, projetos que surgem de experiências anteriores. Essa lógica rizomática contextualiza uma coletividade que não está voltada à unidade do grupo, mas se projeta em redes de criação partilhada.

Nesse contexto, as interações entre os coletivos de quadrinhos se configuram como um rizoma, abrangendo um cenário mais amplo da produção de quadrinhos. Como afirmam Deleuze e Guattari, “O rizoma nele mesmo tem formas muito diversas, desde sua extensão superficial ramificada em todos os sentidos até suas concreções em bulbos e tubérculos” (Deleuze; Guattari, 2011, p. 22). Essa concepção reforça a construção dos coletivos e da cena de quadrinhos em Belém como um rizoma que se renova continuamente, cujas linhas se rompem, se reorganizam e se conectam, sem seguir uma estrutura fixa, mas sim evidenciando seu caráter mutável e dinâmico.

Embora a noção rizomática seja relevante para compreender as dinâmicas dos coletivos, especialmente pela maleabilidade e multiplicidade que estruturam essas redes criativas, é possível identificar certas fissuras quando essa perspectiva é aplicada aos coletivos de quadrinhos. À primeira vista, as trocas e colaborações entre esses grupos podem parecer harmoniosas. No entanto, assim como ocorre em outras dinâmicas sociais, surgem tensões e desencontros que impactam suas formas de organização. Em muitos casos, essas trocas ocorrem não necessariamente entre os coletivos em si, mas por meio da movimentação dos próprios quadrinistas que, ao longo do tempo, contribuem com um grupo específico, mas acabam redirecionando seus caminhos conforme as afinidades e os contextos se transformam.

Se, por um lado, esses grupos apresentam uma aparência horizontal, como em um esquema rizomático (Deleuze; Guattari, 2011), por outro, existem assimetrias que questionam essa percepção. Dentro dos coletivos, é comum a formação de núcleos, como conselhos ou equipes editoriais, que assumem funções de coordenação, atribuindo tarefas aos quadrinistas, gerenciando recursos financeiros e definindo as próximas produções. Assim, o discurso de coletividade não representa uma condução uniforme e homogênea, uma vez que a presença de hierarquias estruturadas revela articulações internas mais complexas.

A partir desses indicativos, é possível problematizar a noção de coletividade como algo em constante construção, não se trata de um conceito pré-estabelecido e fixo, mas de uma ideia que se (re)configura ao longo da pesquisa, renovando-se a cada conversa e troca com os coletivos. Embora possa representar a união de pessoas em torno de um objetivo comum, também engloba as socialidades e sociabilidades promovidas por esses grupos, marcadas por fissuras e heterogeneidades que revelam diferentes formas de organização e modos de interação entre si.

REFERÊNCIAS

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2ª ed. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. São Paulo: Editora 34, 2011.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

SIMMEL, Georg. Sociologia. Organização de Evaristo de Moraes Filho. Tradução de Carlos Alberto Pavanelli. São Paulo: Ática, 1983.

SOUZA, Vince; OLIVEIRA, Otoniel. Uma breve história do quadrinho paraense. Belém: Secult/PA, 2019.


  1. Doutoranda em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM/UFPA),
    Mestra em Linguagens e Saberes na Amazônia (PPLSA/UFPA). ↩︎

História do Assentamento João Batista II é contada em livro publicado pela Editora NAEA

O livro Raízes de luta: A história do Assentamento João Batista II, publicado pelo NAEA em 2024 e organizado por Marina Ramos de Neves Castro, Fábio Fonseca de Castro, Christian Maciel Reis e William Costa da Silva em diálogo com pesquisadores da UFPA e os próprios moradores do assentamento, constitui-se como um documento polifônico e interdisciplinar que entrelaça histórias de vida, análises teóricas e registros fotográficos num esforço coletivo de escuta e escrita conjunta.

Desde a narrativa da ocupação da Fazenda Tanari em novembro de 1998 até a desapropriação oficial em 2000, os relatos de resistência, solidariedade e organização coletiva se desdobram em narrativas que dão voz a lideranças como dona Áurea e dona Miriam, a crianças e jovens do campo e aos próprios estudantes e professores envolvidos no projeto.

Área Central do Assentamento. Foto: SISA, 2023.


Cada capítulo integra métodos etnográficos, história oral, análise socioambiental e estudos culturais, traçando um mosaico que não apenas revisita o passado do assentamento, mas celebra suas reinvenções culturais e políticas até 2024, ressaltando experiências como o “Boi Resistência” — um folguedo que combina símbolos do MST, de Paulo Freire e da agroecologia — e a mamorrilha, árvore-símbolo que encarna a persistência das memórias de luta.

A relevância dessa obra está no seu compromisso ético e político de produzir um acervo científico e social que resgate vozes frequentemente invisibilizadas em narrativas oficiais, ao mesmo tempo em que devolve o saber à comunidade, fortalecendo sua autoestima e sua capacidade de reivindicar direitos.

Ao compilar entrevistas, crônicas e análises em 204 páginas, o livro oferece um instrumento de formação política e de inspiração para novas gerações, mostrando como a reforma agrária pode ser compreendida como um projeto coletivo de justiça socioambiental.

Mais do que um relato histórico, Raízes de luta é uma afirmação de que memória de luta é força viva para conquistas futuras, demonstrando que a escrita coletiva, em sua rigorosidade científica e profunda humanização, pode servir como ferramenta de preservação da memória e de afirmação das subjetividades emergentes no campo.

Imagem e Sociedade na Amazônia: eu, tu e a diversidade em imagens – volume II

Imagem e Sociedade na Amazônia: eu, tu e a diversidade em imagens – volume II, tem por objetivo mostrar a diversidade dos alunos que compõem o curso de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA). A metodologia aplicada se deu por meio de construções imagéticas a partir da percepção sensorial – aquela construída/realizada/produzida através dos nossos sentidos – obtida através da memória e do afeto. De maneira mais amiúde, procuramos evidenciar, em imagens, e com texto que dê suporte a essas imagens, a cultura material que nos conforma. Este volume é fruto do aprendizado e da parceria realizada entre os alunos da turma de Jornalismo de 2024, do curso de Comunicação Social e do Programa de Pós-graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia, ambos da UFPA.

Turma de jornalismo 2024 – Facom_UFPA.

A partir das disciplinas Estudos da Imagem (Facom) e Representações Imagéticas na Amazônia (PPGCOM) buscamos construir uma narrativa composta de imagens e textos que evidenciam a diversidade presente não só nesse curso de graduação e na nossa universidade, mas, também, na Amazônia, múltipla e heterogênea em sua forma social (Simmel, 2006; Castro, 2016).

Neste livro, os alunos foram convidados a participar como autores, refletindo sobre suas vivências e experiências, e, também, a criar o próprio projeto, na sua dimensão imagética, cultural e comunicacional, editando-o coletivamente para a produção deste volume.

Exposição que marcou o lançamento do Livro

A ideia de forma social elaborada por Simmel (2006) e interpretada por Castro (2016; 2024) que subsidiam o pensamento dos pesquisadores do SISA e, a partir deles, estão presentes nas disciplinas e neste projeto, sustentam o escopo extensional do projeto e do livro. Esclarecemos que aqui, quando usamos o referencial da forma social, esclarecemos que ela é compreendida enquanto um fenômeno de interação, portanto, múltiplo, diverso, maleável, rico e em constante transformação (Castro, 2024). Assim, o livro nasce para evidenciar essa diversidade pulsante na experiência de fazer parte e estar presente na Amazônia por nós construída e partilhada, dentre as muitas Amazônias possíveis.

Então, partilhamos aqui nossos rastros, nossas vidas e o que nos constitui no hoje, no aqui e no agora. Rastros de vivências e experiências que estão muitas vezes no invisível, no traço (Derrida, 2002), no sentido, no afeto, na dor; rastros que se propõem, muitas vezes, imperceptíveis, quase inaudíveis, para uma percepção consciente, mas que fazem parte do nosso mundo da vida, nem sempre conscientes, mas sim, intersubjetivos (Castro, 2024). São nossos rastros de sentidos, compostos, como coloca Derrida (2002), por múltiplos traços. Rastros que, por vezes, se materializam em imagens. São rastros evidenciados em mediações, em interações, em trocas providas de afetos e, quiçá, de desafetos.

Aqui, traçamos os contornos de uma autoetnografia coletiva e plural, desenhada em imagens. São esboços de um fazer etnográfico e comunicativo, em que buscamos nos situar no tempo e no espaço como uma construção nossa voltada ao outro — uma abertura dos nossos “eus” em direção ao encontro. Trata-se de um ensaio, um exercício de empatia; aquela empatia que se nutre do afeto e da vontade genuína de comunicar e interagir.

No mais, agradeço a participação e a generosidade dos nossos alunos que aqui se fizeram presentes, partilhando conosco e convosco suas vidas. Agradeço igualmente à Faculdade de Comunicação, ao Programa de Pós-graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia e à UFPA pela oportunidade do diálogo e da construção. Sem os atores citados acima, não teríamos conseguido realizar esta obra.

E, isto dito, vos convidamos a olhar e a olhar o nosso olhar e a colaboração presente nele através desta pequena construção coletiva.

Marina Ramos Neves de Castro
Professora da FACOM e do PPGCOM
Líder do grupo de pesquisa SISA

ISBN 978-65-01-22804-4

25 anos do Assentamento do MST João Batista II

Do campo, o campo!

Conhecemos o tempo do campo, aprendemos a respirar fundo; e lentamente. Comunicamos, por meio do audiovisual, o nosso olhar no e do campo, cultivando os sentidos e eternizando memórias…

Assista.

Produção Documental da Visita ao Assentamento do MST João Batista II, em Castanhal, PA.

O documentário narra histórias de assentados e suas lutas em torno da terra. Aos 25 anos, o Assentamento João Batista II tem sua história documentada em vídeo, após visita em campo, organizada pelo Grupo de Pesquisa Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas (SISA), de discentes do curso de jornalismo, da Faculdade de Comunicação (FACOM) e, do Programa de Pós-graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), ambos da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Realização